terça-feira, 20 de julho de 2010

Regras gerais de segurança em laboratório.





http://www.youtube.com/watch?v=tMPbabV6nak

VIDRARIAS E OUTROS EQUIPAMENTOS DE LABORATÓRIO.


PISSETA OU FRASCO LAVADOR
Usada para lavagens de materiais ou recipientes através de jatos de água, álcool ou outros solventes.

SUPORTE UNIVERSAL
Utilizado em operações como: Filtração, Suporte para Condensador, Bureta, Sistemas de Destilação etc. Serve também para sustentar peças em geral.

TELA DE AMIANTO
Suporte para as peças a serem aquecidas. A função do amianto é distribuir uniformemente o calor recebido pelo bico de bunsen. Atualmente está sendo proibida sua comercialização, por ser o amianto cancerígeno. 


TRIPÉ
Sustentáculo para efetuar aquecimentos de soluções em vidrarias diversas de laboratório. É utilizado em conjunto com a tela de amianto.


KITASSATO
Utilizado em conjunto com o funil de Büchner em filtrações a vácuo.

PIPETA GRADUADA
Utilizada para medir pequenos volumes. Mede volumes variáveis. Não pode ser aquecida e não apresenta precisão na medida.

PIPETA VOLUMÉTRICA
Usada para medir e transferir volume de líquidos, não podendo ser aquecida, pois possui grande precisão de medida. Medem um único volume, o que caracteriza sua precisão.

PROVETA OU CILINDRO GRADUADO
Serve para medir e transferir volumes variáveis de líquidos em grandes quantidades se necessário. Pode ser encontrada em volumes de 25 até 1000mL. Não pode ser aquecida.

TUBO DE ENSAIO
Empregado para fazer reações em pequena escala, principalmente em testes de reação em geral. Pode ser aquecido com movimentos circulares e com cuidado diretamente sob a chama do bico de bunsen.

VIDRO DE RELÓGIO
Peça de Vidro de forma côncava, é usada em análises e evaporações em pequena escala, além de auxiliar na pesagem de substâncias não voláteis e não higroscópicas. Não pode ser aquecida diretamente.


ANEL OU ARGOLA
Usado como suporte do funil na filtração.

BALANÇA DIGITAL
Usada para a medida de massa de sólidos e líquidos não voláteis com precisão de até quatro casa decimais.

BICO DE BUNSEN
É a fonte de aquecimento mais utilizada em laboratório. Mas contemporaneamente tem sido substituído pelas mantas e chapas de aquecimento. Deve-se evitar seu uso quando utilizamos substâncias inflamáveis dentro do recipiente que se quer aquecer.

ESTANTE PARA TUBO DE ENSAIO
É usada para suporte dos tubos de ensaio.
GARRA DE CONDENSADOR
Usada para prender o condensador à haste do suporte ou outras peças como balões, erlenmeyers etc.
PINÇA DE MADEIRA
Usada para prender o tubo de ensaio durante o aquecimento.

PINÇA METÁLICA (TENAZ)
Usada para manipular objetos aquecidos.


ALMOFARIZ COM PISTILO
Usado na trituração e pulverização de sólidos em pequena escala.

BALÃO DE FUNDO CHATO
Utilizado como recipiente para conter líquidos ou soluções, ou mesmo, fazer reações com desprendimento de gases. Pode ser aquecido sobre o tripé com tela de amianto.

BALÃO DE FUNDO REDONDO
Utilizado principalmente em sistemas de refluxo e evaporação a vácuo, acoplado a um rotaevaporador.

BALÃO VOLUMÉTRICO
Possui volume definido e é utilizado para o preparo de soluções com precisão em laboratório

BECKER
É de uso geral em laboratório. Serve para fazer reações entre soluções, dissolver substâncias sólidas, efetuar reações de precipitação e aquecer líquidos. Pode ser aquecido sobre a tela de amianto.
BURETA COM TORNEIRA DE VIDRO OU TEFLON
Aparelho utilizado em análises volumétricas não tão precisas. Apresenta tubo de parede uniforme para assegurar a tolerância estipulada com exatidão e gravação permanente em linhas bem delineadas afim de facilitar a leitura de volume escoado.
CADINHO
Peça geralmente de porcelana cuja utilidade é aquecer substâncias a seco, podendo fundi-las,  e com grande intensidade de calor (acima de 500°C), por isto pode ser levado diretamente ao bico de bunsen. Pode ser feito de ferro, chumbo, platina e porcelana.

CÁPSULA DE PORCELANA
Peça de porcelana usada para evaporar líquidos das soluções e na secagem de substâncias. Podem ser utilizadas em estufas desde que se respeite o limite de no máx. 500°C

CONDENSADOR
Utilizado na destilação, tem como finalidade condensar vapores gerados pelo aquecimento de líquidos. Os mais comuns são os de Liebig, como o da figura ao lado, mas há também o de bolas e serpentina.

DESSECADOR
Usado para guardar substâncias em atmosfera com baixo índice de umidade.

ERLENMEYER
Utilizado em titulações, aquecimento de líquidos e para dissolver substâncias e proceder reações entre soluções. Seu diferencial em relação ao béquer é que este permite agitação manual, devido ao seu afunilamento, sem que haja risco de perda do material agitado. 
FUNIL DE BUCHNER
Utilizado em filtrações a vácuo. Pode ser usado com a função de filtro em conjunto com o Kitassato.

FUNIL DE SEPARAÇÃO
Utilizado na separação de líquidos não miscíveis e na extração líquido/líquido. 




http://www.mundodoquimico.hpg.ig.com.br/vidrarias.htm



Regras gerais de segurança em laboratório

As regras gerais de segurança em laboratório, resultam de vários anos de esforços de pessoas preocupadas em tornar o trabalho no laboratório uma atividade segura.

Para tirar o máximo de proveito delas, é necessário que todos os usuários a conheçam e a pratiquem, desde o primeiro instante que pretenderem permanecer em um laboratório.

São regras simples, fáceis de memorizar e de seguir:

    * Indumentária Apropriada


   1. Avental de mangas compridas, longos até os joelhos, com fios de algodão na composição do tecido.
   2. Calça comprida de tecido não inteiramente sintético.
   3. Sapato fechado, de couro ou assemelhado.
   4. Óculos de segurança.
   5. Luvas

    * Indumentária Proibida

   1. Bermuda ou short.
   2. Sandália, Chinelo, Sapato aberto.
   3. Uso de lente de contato.
   4. Uso de braceletes, correntes ou outros adereços.
   5. Avental de naylon ou 100% poliester.


   * Hábitos Individuais

   1. Faça no Laboratório

   2. Lave as mãos antes de iniciar seu trabalho.
   3. Lave as mãos entre dois procedimentos.
   4. Lave as mãos antes de sair do laboratório.
   5. Certifique-se da localização do chuveiro de emergência, lava-olhos, e suas operacionalizações.
   6. Conheça a localização e os tipos de extintores de incêndio no laboratório.
   7. Conheça a localização das saídas de emergências.

   1. Não Faça no Laboratório

   2. Fumar
   3. Comer
   4. Correr
   5. Beber
   6. Sentar ou debruçar na bancada
   7. Sentar no chão
   8. Não use cabelo comprido solto
   9. Não (ou evite) trabalhar solitário no laboratório
  10. Não manuseie sólidos e líquidos desconhecidos apenas por curiosidade

    * Atitudes Individuais com Ácidos

   1. Adicione sempre o ácido à água; nunca faça o inverso.

    * Atitudes Individuais com Bicos de Gás

   1. Feche completamente a válvula de regulagem de altura de chama.
   2. Abra o registro do bloqueador da linha de alimentação.
   3. Providencie uma chama piloto e aproxime do bico de gás.
   4. Abra lentamente a válvula de regulagem de altura de chama até que o bico de gás ascenda.
   5. Regule a chama.

    * Atitudes Individuais com Soluções

Observação: Cerca de 80% das soluções químicas concentradas são nocivas aos organismos vivos, principalmente se mistradas por via oral.

   1. Não transporte soluções em recipientes de boca largas, se tiver que efetuá-lo por certa distância, triplique sua atenção durante o percurso e solicite um colega que o acompanhe.
   2. Não leve a boca a qualquer reagente químico, nem mesmo o mais diluído.
   3. Certifique-se da concentração e da data de preparação de uma solução antes de usá-la.
   4. Não pipete, aspirando com a boca, líquidos cáusticos, venenosos ou corantes, use pêra de segurança.
   5. Não use o mesmo equipamento volumétrico para medir simultâneamente soluções diferentes.
   6. Volumes de soluções padronizadas, tiradas dos recipientes de origem e não utilizadas, devem ser descartados e não retornados ao recipiente de origem.

    * Descarte de Sólidos e Líquidos

   1. Deverá ser efetuado em recipientes apropriados separando-se o descarte de orgânicos de inorgânicos.

    *  Cuidados com Aquecimento, incluído: Reação exotérmica, chama direta, resistência elétrica e banho-maria.


   1. Não aqueça bruscamente qualquer substância.

   2. Nunca dirija a abertura de tubos de ensaio ou frascos para si ou para outrem durante o aquecimento.

   3. Não deixe sem o aviso "cuidado material aquecido", equipamento ou vidraria que tenha sido removida de sua fonte de aquecimento, ainda quente e deixado repousar em lugar que possa ser tocado inadvertidamente.

   4. Não utilize "chama exposta" em locais onde esteja ocorrendo manuseio de solventes voláteis, tais como éteres, acetona, metanol, etanol, etc.

   5. Não aqueça fora das capelas, substâncias que gerem vapores ou fumos tóxicos.

    * Manuseio e Cuidados com Frasco de Reagentes


   1. Leia cuidadosamente o rótulo do frasco antes de utilizá-lo, habitue-se a lê-lo, mais uma vez, ao pegá-lo, e novamente antes de usá-lo.

   2. Ao utilizar uma substância sólida ou líquida dos frascos de reagentes, pegue-o de modo que sua mão proteja o rótulo e incline-o de modo que o fluxo escoe do lado oposto ao rótulo.

   3. Muito cuidado com as tampas dos frascos, não permita que ele seja contaminada ou contamine-se. Se necessário use o auxílio de vidros de relógio, placas de Petri, etc. Para evitar que isso aconteça.

   4. Ao acondicionar um reagente, certifique-se antes da compatibilidade com o frasco, por exemplo, substâncias sensíveis à luz, não podem ser acondicionadas em embalagens translúcidas.

   5. Não cheire diretamente frascos de nenhum produto químico, aprenda esta técnica e passe a utilizá-la de início, mesmo que o frasco contenha perfume.

   6. Os cuidados com o descarte de frascos vazios de reagentes não devem ser menores que os cuidados com o descarte de soluções que eles dão origem.

    *  Cuidados com Aparelhagem, Equipamentos e Vidrarias Laboratoriais

   1. Antes de iniciar a montagem, inspecione a aparelhagem, certifique-se de que ela esteja completa, intacta e em condições de uso.

   2. Não utilize material de vidro trincado, quebrado, com arestas cortantes.

   3. Não seque equipamentos volumétricos utilizando estufas aquecidas ou ar comprimido.

   4. Não utilizes tubos de vidro, termômetros em rolha, sem antes lubrificá-los com vaselina e proteger as mãos com luvas apropriadas ou toalha de pano.

                                                                       http://www.coladaweb.com/quimica/quimica-geral/regras-gerais-de-seguranca-em-laboratorio                                                                                                                                                                   Autoria: Rodolfo Moreira

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Em que Mundo queremos Viver?

     Quando se pensa em juventude, logo se pensa em futuro. Pais, professores, governantes... Todos se preocupam e se dedicam a preparar os jovens para que possam desfrutar de boa saúde, conforto, terem boas perspectivas profissionais, serem eficientes, inovadores e que, assim, possam contribuir com a construção de um país mais próspero, justo e ético.

     Não há dúvidas de que estes desejos são autênticos, genuínos e vêm acompanhados da percepção de que os jovens do século 21 podem ter uma vida melhor que seus pais e avós. A ciência e a tecnologia evoluíram tanto que já permitem aos seres humanos executar menos tarefas pesadas, adoecer menos, alimentar-se balanceadamente, viver mais e melhor.

O Lar-Terra

     Mas os jovens do novo século podem ter à sua frente um futuro sombrio, ameaçador, no qual os recursos naturais mais importantes para a sobrevivência e para a qualidade de vida da humanidade estejam irremediavelmente comprometidos.

     Como viver sem água? Como ter saúde e qualidade de vida em um planeta onde as mudanças climáticas produzem frios extremos alternados com temperaturas altíssimas? Como produzir alimentos suficientes tendo longos períodos de enchentes seguidos de muitos meses de estiagem? Como lidar com as pandemias com a migração dos vetores das doenças?

     Como vamos adaptar nossas estruturas físicas, nosso modo de produção, de locomoção, nosso modo de viver às novas condições climáticas, geradas pelo aquecimento global?

     A palavra ecologia vem do grego óikos e significa casa, lar. Ecologia é a ciência da administração do Lar-Terra, da Pacha-Mama, grande mãe, como o planeta era designado nas culturas andinas, ou de Gaia, organismo vivo, como era chamado na mitologia grega e também na moderna cosmologia.

     Mas hoje, embora muito se fale de meio ambiente, pouco se faz para restabelecer a ligação perdida com a natureza. É cada vez mais evidente a ruptura entre o modelo de desenvolvimento vigente em grande parte do mundo e a capacidade de suporte do planeta. Estamos dilapidando os recursos naturais em uma velocidade e intensidade nunca antes vista.

     Está mais do que na hora de mudarmos este cenário. Cada um de nós pode atuar para garantir a qualidade de vida das atuais e das próximas gerações no planeta.

     Os jovens, dotados de uma imensa energia vital, podem e devem ser convocados a compreender este contexto e estimulados a exercer ativamente sua cidadania planetária.

     Precisam compreender o funcionamento das leis da natureza e, inspirados em seus padrões, transformar os sistemas socioeconômicos, tornando-os sustentáveis.

     A ciência já nos permite saber o que fazer; o desenvolvimento tecnológico que a humanidade alcançou já pode oferecer alternativas ambientalmente corretas a muitas de nossas necessidades.

     Pais e educadores têm em suas mãos o poder de decidir sobre o futuro do planeta, mudando suas atitudes e práticas, estimulando, inspirando e mobilizando os jovens a se comprometerem com as questões socioambientais. Trata-se, afinal, de garantir o seu futuro.

O que fazer em casa para contribuir com a construção de um planeta sustentável?

• Dar preferência ao transporte público;
• Consumir só o que for necessário, evitando comprar aquilo que não precisa;
• Levar sempre uma sacola de compras, dentro da bolsa ou da mochila, de modo a não usar embalagens plásticas;
• Preferir embalagens que possam ser reutilizadas e/ou recicladas;
• Separar o lixo e encaminhar para reciclagem;
• Nunca jogar no lixo comum pilhas e baterias. Entregá-las em postos de coleta apropriados;
• Recolher o óleo usado na cozinha e entregá-lo a empresas ou catadores que o utilizam para sabão ou biodiesel;
• Montar uma composteira em sua casa, escola, comunidade para produção de adubo orgânico.
• Não queimar o lixo doméstico e não permitir que o façam em sua vizinhança;
• Não comprar e nem utilizar madeira de construção e carvão vegetal sem conhecer sua origem. O desmatamento também é culpa de quem consome a madeira e o carvão ilegais;
• Contribuir com o controle de enchentes e com o clima plantando árvores, arbustos ou até mesmo grama no quintal de sua casa, de seu condomínio, da escola, na calçada, nas margens do córrego ou rio mais próximo;
• Economizar água, coletar a água de chuva e usá-la para lavar quintal, trocar a válvula hidra do vaso sanitário por caixa de descarga, diminuir o tempo do banho, nunca deixar a torneira aberta enquanto se escova os dentes ou faz barba;
• Economizar energia, apagar as luzes do ambiente quando sair, usar lâmpadas fluorescentes, desligar completamente os aparelhos eletrônicos que não estiverem em uso, nunca os deixando em stand by...
• Consumir alimentos orgânicos, de preferência produzidos localmente;
• Dar asas à imaginação e acrescentar muitos outros itens a esta listagem...
Miriam Dualibi,
professora e presidente do Instituto
ECOAR para a Cidadania, São Paulo, SP.
Endereço eletrônico: miriam@ecoar.org.br
Artigo publicado na edição nº 387, jornal Mundo Jovem, junho de 2008, página 11.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Li e Gostei - Entrevista publicada na edição nº 404, março de 2010. Um grito em defesa da água.

Todos concordam que a água é tão indispensável para nossas vidas quanto o ar que respiramos. Apesar de sua importância, a água não recebe o cuidado que merece, nem no nível pessoal, no desperdício que não evitamos, nem no nível social, do acesso e distribuição justa da água para todos. Roberto Malvezzi (Gogó), defende a água como um direito humano fundamental.
Roberto Malvezzi (Gogó),
músico e escritor de Juazeiro, BA, coordenador nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Endereço eletrônico: robertomalvezzi@oi.com.br


Mundo Jovem: Muito se diz que no futuro as guerras vão ser por água... Mas já não estamos em “guerra” por isso?

Roberto Malvezzi: Realmente, o futuro já é o presente. Temos disputas ainda no campo político, jurídico; das lutas sociais, como é o caso da transposição do Rio São Francisco. Temos guerras reais, como é o caso dos israelenses e palestinos. Ali, as grandes nascentes estão em território palestino, mas o maior uso da água é dos israelenses. Quando é necessário, Israel nega água aos palestinos, como forma de pressão. Mas sem a água palestina, Israel não existiria.

     Com o passar dos anos, insistindo nesse modelo de civilização que consome intensamente a água, particularmente a agricultura irrigada, a disputa será cada vez mais severa. Como cristãos, já na Campanha da Fraternidade de 2004 dizíamos que a partilha da água pode ser fonte de fraternidade, não de guerra. É preciso considerar que no mundo já existe essa consciência bastante avançada para que a água seja reconhecida como um direito fundamental da pessoa humana e um patrimônio de todos os seres vivos.


Mundo Jovem: Qual é a real situação da água no Brasil e no mundo?

Roberto Malvezzi: Não há como negar que o Brasil é o maior do mundo em relação à água. O país detém em seu território 13,8% das águas de superfície do planeta. São dados do Plano Nacional de Recursos Hídricos. Se considerarmos as tais águas internacionais, como a bacia amazônica, então chegamos perto de 20%. Mesmo o Nordeste, região mais pobre de água do Brasil, a rigor, tem água suficiente para abastecer toda sua população. O problema nordestino é a distribuição dessa água para que todos tenham acesso a ela. Agora com o refinamento do chamado Atlas do Nordeste, a Agência Nacional de Águas (ANA) prevê que mais de 1.300 municípios da região podem entrar em colapso de água até 2025 se não houver investimentos sérios no suprimento de água. A transposição não resolve, não distribui a água.

     Nosso problema é o desleixo, a depredação, a irresponsabilidade que vai desde os cidadãos até as autoridades, passando pelos grandes usuários, como a agricultura irrigada, a indústria e as empresas de saneamento urbano.

     Há uma nova geração, mais consciente, que percebe melhor o jeito como deveríamos usar a água. Não sei se essa nova geração vai conseguir construir uma nova cultura, obrigando empresas e governos a serem diferentes no uso da água.


Mundo Jovem: E a água mineral engarrafada?

Roberto Malvezzi: A chamada água engarrafada é um dos negócios mais rentáveis do mundo. Afinal, muitas vezes basta captar a água do manancial, engarrafá-la e depois vendê-la. O custo é praticamente zero. O lucro é acima de qualquer produto. E estão nos acostumando a comprar água engarrafada, nem sempre mineral. Aliás, nem sempre a água engarrafada é de qualidade. Muita gente não bebe água de sua torneira, mesmo pagando por ela. Vai comprar água engarrafada para beber. Nesse sentido, escassez apenas é um mito para dar valor econômico à água.


Mundo Jovem: O que dizer da extinção das nascentes e vertentes?

Roberto Malvezzi: Se formos conversar com qualquer pessoa mais antiga, ela vai dizer: “ali tinha uma nascente, hoje não tem mais; ali corria um riacho, hoje não tem mais”. Com a destruição da cobertura vegetal, na maior parte das vezes em função da agricultura, as nascentes desaparecem. Hoje há programas de proteção de nascentes, até de recuperação de nascentes que desapareceram.

     Esse é o problema mais grave. Não basta existir água na face da Terra. Ela não desaparece, não diminui sua quantidade em termos globais. O ciclo das chuvas repõe essa água. Entretanto ela pode ir ficando cada vez mais distante, cada vez mais contaminada, cada vez mais inacessível. A morte das nascentes é a prova dessa realidade.

     Há também nessa linha uma nova consciência. Mas há conflito. A concepção predadora do desenvolvimento brasileiro literalmente tem matado nossas nascentes e vertentes.


Mundo Jovem: Há relação entre a escassez de água e mudanças climáticas?

Roberto Malvezzi: As mudanças climáticas vão alterar completamente o ciclo das águas. Com mais calor, teremos mais evaporação, mais chuvas torrenciais, furacões etc. Segundo muitos especialistas, essas chuvas torrenciais poderão se alternar com longos períodos de seca. Além do mais, mudando o ciclo dos ventos, muitas regiões poderão ter menos disponibilidade de água, como o Nordeste e até a própria Amazônia. O “rio aéreo” que vem da Amazônia para o Sul poderá perder até 70% de seu potencial. É preciso lembrar que a região sul, onde hoje está o Aquífero Guarani, já foi um imenso deserto. Só passou a ser o que é graças ao contraforte dos Andes, que empurra os ventos para a região sul, trazendo assim também as águas amazônicas.

     Outro fator fundamental é que, com o aquecimento global, grande parte das geleiras vão se derreter. Elas representam 2% da água do planeta, mas aproximadamente 80% da água doce do planeta. Portanto, vai mudar a equação entre água doce e salgada. Se hoje a salgada é 97,6%, poderá ser em breve - 2050 ou 2100 - aproximadamente 99%. Com a elevação do mar, muitas fontes de água, que estão mais próximas do litoral, também poderão ser salinizadas. Portanto a relação pode ser muito mais profunda, muito mais devastadora do que parece à primeira vista.


Mundo Jovem: Qual a parcela de responsabilidade das irrigações e do agronegócio na escassez e contaminação das águas?

Roberto Malvezzi: A agricultura irrigada consome em média 70% da água doce do planeta. No Oeste Baiano, onde o agronegócio avançou sobre o Cerrado, os pivôs centrais de irrigação funcionam a céu aberto, mas sem outorga para explorar o aquífero Urucúia, o maior manancial de abastecimento do Rio São Francisco.

     O agronegócio não só consome muita água, como devasta a cobertura vegetal das bacias. A falta de vegetação tem um enorme impacto na erosão dos solos e na penetração da água no subsolo. Se há vegetação, cerca de 60% da água da chuva penetra no chão, formando os aquíferos. Se não há cobertura, a água escorre, erodindo os solos e não penetrando no solo. Nessas condições, só 20% penetram no chão. Por isso que muitos rios, quando precisam de seus mananciais subterrâneos para sobreviver, mostram toda sua fraqueza, baixando terrivelmente o nível de suas águas.

     O agronegócio é o grande responsável não só pelo desmatamento brasileiro, mas também pela mudança no regime de nossos rios, juntamente com as grandes barragens.


Mundo Jovem: E a contaminação de nossas águas através de esgotos?

Roberto Malvezzi: A realidade do saneamento ambiental no Brasil continua precária. Cerca de 50% de nossos lares continuam sem coleta de esgoto. No Norte e no Nordeste esses números crescem assustadoramente. Agora, com o PAC, está previsto um investimento de 170 bilhões de reais para saneamento. Vamos ver se prosseguiremos consistentemente nessa linha.


Mundo Jovem: Existem perspectivas de um melhor aproveitamento da água?

Roberto Malvezzi: O Brasil ainda está implantando o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, criado pela lei brasileira 9.433/97. O sistema está baseado nos Comitês de Bacias Hidrográficas, tendo como cúpula o Conselho Nacional de Recursos Hídricos. Ele prevê a cobrança da água e a necessidade da outorga para qualquer usuário impactante. É difícil dizer como está essa montagem em cada bacia. No Rio São Francisco, o comitê está montado, tem seus limites, mas tem sido importante no debate sobre a transposição. Demarcou sua posição, contrariou o governo, que levou a decisão para o Conselho Nacional. Ali o comitê foi derrotado, já que no Conselho a grande maioria é representante de órgãos governamentais.

Mundo Jovem: Quais são as alternativas de melhor aproveitamento da água?

Roberto Malvezzi: Um dos argumentos dos defensores do novo sistema é que a cobrança pela água vai obrigar as empresas a usá-la mais racionalmente. Vai custar mais. Pode ser que dê certo.

     Na agricultura, hoje, se fala muito em novas técnicas, poupadoras de água, abandonando técnicas predadoras como os tais pivôs centrais. No Nordeste, dizem os especialistas, cerca de 80% da água se perdem antes de chegar ao chão. Como é muito quente, a água evapora antes de cair. As práticas estão indicando outras tecnologias, como o gotejamento na raiz da planta.

     Porém a mudança tem que ser mais profunda, mais que a mudança de técnicas. A agricultura está consumindo 70% em média da água doce mundial e essa quantidade tem se mostrado insustentável. É a grande causadora da crise global da água. Nesse padrão de consumo, não há técnica que resolva.

 Adaptação : Revista Mundo Jovem/2010.